A percepção dos desejos

Por Andreia Tibério dos Santos.

If any could desire what he is incapable of possessing, despair must be his eternal lot.
William Blake

As percepções entendem-se como produto do ser humano ser apto a possuir sentidos físicos e emocionais. O estado da razão e consciência dota-nos de capacidade de análise, avaliação e sentido de querer, pelo que o desejo só é passível de acontecer sobre algo que já foi percepcionado e pode denunciar a existência de uma carência, típica do ser mortal que busca constantemente atingir algo que não tem.
Da mesma forma que a própria consciência de pretender algo desejado empola o objecto ou pessoa alvo de desejo.
As intuições obtidas e as aspirações são fruto de algo que, mesmo de forma menor, já foi percebido. Veja-se o meu caso, quando penso nos desejos que guardo concluo que todos têm por base um ínfimo de sensações já percepcionadas em algum momento da minha vida; sem esta noção da possibilidade de existência, jamais poderia desejar. Aquilo que genuinamente é desconhecido, ou seja, que em momento algum foi dado a conhecer ao ser humano, nunca poderá ser objecto de desejo, nem nos sonhos, uma vez que estes materializam o subconsciente que absorve as percepções subtis do dia a dia de cada um. Nestas circunstâncias talvez se possa falar numa tendência de alcance reprimida ou inconsciente.
O desconhecido que já tenha sido identificado, embora podendo não ter sido alcançado, já pode ser objecto de busca com o propósito de obter satisfação…
Esta disposição mental, que representa o querer intenso, envolve todos os sentidos e justifica-se, assim, que necessite ser despoletada por percepções.
A temática é extensa e irresolúvel, se explorarmos todos os campos de desejo: mental, superior, carnal, inconsciente… que muitas vezes entram em conflito estimulados pelo conceito de ética. Sendo também este um outro território vasto de pensamento filosófico.
Quando queremos atribuir um significado a estímulos sensoriais estamos a promover o desejo, dado que ganhamos consciência do que ainda não alcançámos. Este raciocínio questiona a razão!
O pensamento é, a meu ver, portador de inúmeros desejos que são a incubadora de processos mentais que alimentam os sentidos, que por sua vez canalizam o ser humano para traçar o caminho do que é subjectivo.
Desejar faz parte da própria realização da condição humana, do “sentir-se vivo” e o assunto desejado é um alimento natural que impele para a construção da pessoa e do seu papel na sociedade. Inerente a esta construção lógica está o conhecimento, que pode constituir parte dos alicerces da estrutura do desejo. O conhecimento pressupõe que o ser humano tenha já tido contacto com percepções, que podem ser elas mesmas a consciência do próprio desejo individual ou colectivo.

Andreia Tibério dos Santos

Existem pessoas que nascem com o destino traçado, outras que vão trilhando caminho para entenderem quem são, qual o seu propósito. Faço parte do segundo grupo. Escrevo porque gosto. Leio porque os livros me alimentam.
As imagens agarro-as, de preferência numa antiga sala de cinema, onde as narrativas se exaltam em dinâmicas visuais; ou com a fotografia que no estático actua por enredos diversos. A música está-me sempre presente, ainda que em sussurro. O ímpeto da dança concede-me o acesso a poesia coreografada.
Com as viagens enriqueço o pensamento e conheço novas gentes. 
Em torno da palavra “livro” exploro o meu ofício.

Com a prática de yoga e meditação indago quem genuinamente sou: mãe, mulher, trabalhadora, amiga, filha, idealista, errante, inquieta, complexa; o que faz de mim várias pessoas que surgem sem pedir permissão.

Publicado

em

por

Etiquetas: