de mim

Por Soraia Queijo.

há dias que se encerram num vazio maior.
há dias que se movem numa distância maior.
nada chega. nada me chega. nada é suficiente.

ou a inquietude é maior ou eu me faço mais pequena, nunca sei. já não me privo destes dias, nem me privo nestes dias. aprendi a somá-los satisfatoriamente, soma de mim, processo de ser eu.

nestes dias há um pendor melancólico no ritmo com que me maquilho. ritual de ser eu, mecanicamente instalado pela minha mãe, nela e em mim.
e nunca há uma razão. o dia corre vazio porque corre vazio. todas as tentativas de me fazer maior que a minha inquietude são em vão.

aceito-a, depois, porque talvez ela nunca termine, ela sou eu e eu faço-me também dela. é um caminho de terra, longo, poeirento.

talvez ela venha para me lembrar como eu sou, para que nunca me esqueça de mim nas expectativas dos outros. um dia cosi sonhos (de)limitada pela necessidade de nunca ser inquieta, insatisfeita, um mar de incongruências.

mas sempre fui inquieta, insatisfeita, um mar de incongruências.
e assim me vi, um dia, distante e fria naquele quadrado a que me limitei. negando-me inquieta. depois escrevi para sobreviver. e tive dias vazios, distantes, insuficientes. fui eu.

Soraia Queijo. 

35 anos, psicóloga, terapeuta familiar e de casal. 
Mãe de 3, inconformada, inquieta, escrevo nas horas ocupadas de um sítio que se chama Sines.  
Gosto do sol, de poesia e, essencialmente, de pessoas - quase todas. 

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