Por Soraia Queijo.
Enquanto eu falava, tu, num gesto natural e pouco pensado, rodavas os 3 anéis finos e frios que eu tinha num dedo. Olhando-me com atenção.
Eu falava e tu num movimento fluído com dois dedos – às vezes três – giravas os meus anéis. Aquilo pareceu-me a metáfora perfeita, era aquilo que – sem saber- fazias com o meu coração. E com a minha vida. Eu não sei o que dizia, estava atenta aos meus anéis a rodarem.
Sei todas as vezes que me procuraste as mãos. E que os nossos dedos se entraçaram uns nos outros.
É sempre um reencontro bonito, das minhas mãos com as tuas. O amor tem muito disto: procurar o calor que só algumas mãos nos dão.
Sempre que entras na minha vida ela gira, voltas e voltas e voltas pelos teus dedos. Pelo teu corpo. A minha cabeça no teu peito a girar como os anéis no dedo. E o balanço era dado por ti em ambas as situações. Na cabeça e nos anéis.
Hoje o meu filho à mesa perguntou como seria o mundo ao contrário.
E eu disse-lhe em silêncio: Filho, é quando ele me roda os anéis nos dedos.
O amor feito de mar e mel.
Amor de lonjuras, como Mia Couto.
Amor de voltar.
Soraia Queijo. 35 anos, psicóloga, terapeuta familiar e de casal. Mãe de 3, inconformada, inquieta, escrevo nas horas ocupadas de um sítio que se chama Sines. Gosto do sol, de poesia e, essencialmente, de pessoas - quase todas.